O número de cadelas diabéticas é o dobro dos machos afetados. Suspeita-se que os cães de pequeno porte sejam mais suscetíveis ao diabetes.
No Brasil, grande número de pinschers sofre com o diabetes, também comum em dachshunds, schnauzers miniatura, lulus da Pomerânia, beagles e poodles toy. Entre os cães grandes, a doença acomete principalmente os retrievers do Labrador, golden retrievers e samoiedas. Seja como for, a doença é típica da espécie; portanto, qualquer cão pode desenvolver diabetes.
Além de prejudicar seriamente a qualidade de vida, o diabetes em cães, assim como nos humanos, é fator de problemas ópticos (como catarata e glaucoma), doenças renais, desordens do sistema nervoso central e periférico, aumento da suscetibilidade a infecções e, em casos graves, cetoacidose diabética, determinada pelo aumento de cetonas (corpos cetônicos) no sangue e na urina.
A cetoacidose é uma situação de emergência. Quando há falta de insulina (o hormônio responsável por equilibrar o açúcar na corrente sanguínea e transportá-lo para as células), o nível energético cai e o organismo passa a utilizar a gordura estocada para produzir energia e evitar um colapso celular.
Um dos subprodutos desta estratégia, no entanto, são as cetonas, que, em níveis elevados, causam intoxicações nos rins e no fígado: eles podem literalmente envenenar os diabéticos. Os animais podem entrar em coma e morrer em poucas horas caso não haja socorro de saúde.
O diabetes não dependente de insulina é uma condição bastante rara entre os cães. Os tipos diagnosticados mais comuns em nossos amigos de quatro patas são:
• diabetes mellitus – é caracterizado pelo excesso do teor de glicose no sangue. A doença é causada pela redução da produção, pelo pâncreas, do hormônio insulina. Este tipo pode ser congênito e, neste caso, os sintomas do diabetes já surgem nos filhotes. A maioria dos casos, no entanto, é causada pela resistência orgânica à insulina, quase sempre provocada por doenças do pâncreas, pelo sedentarismo e por maus hábitos alimentares;
• diabetes insipidus – está relacionado a uma deficiência da vasopressina (hormônio antidiurético normalmente secretado em casos de desidratação e queda da pressão arterial). Com a redução da produção, os cães passam a ter mais sede e a urinar mais, desenvolvendo, no médio prazo, sintomas semelhantes ao do diabetes mellitus. A doença é causada por deficiências da hipófise (glândula na base do cérebro responsável pela produção de vasopressina) ou por problemas renais.
Os sinais mais comuns do diabetes em cachorros são a sede excessiva (polidipsia), aumento do volume de urina (poliúria) e, em alguns casos, incontinência urinária. Nos casos de diabetes mellitus em cães moradores de quintais, é comum que se juntem formigas nos locais em que o animal está acostumado a urinar (diversas espécies destes insetos são atraídas pelo alto teor de açúcar).
Apesar do aumento do apetite, identificado na maioria dos casos – inclusive com o desenvolvimento da polifagia (avidez desmedida por alimentos sólidos), os animais apresentam perda visível de peso e podem ter problemas de visão (especialmente a catarata); Cansaço e irritabilidade são frequentemente identificados entre os cães diabéticos.
Alguns sintomas não se manifestam em todos os casos, mas podem servir como alerta aos proprietários. Alguns cães apresentam problemas cutâneos (como a piodermite, dermatite bacteriana caracterizada pela presença de pus nas ulcerações, e a alopecia localizada [perda de pelos]) e aumento do volume do fígado, perceptível através da palpação.
Com o avanço da doença, podem ocorrer sobrepeso e obesidade, aumento das infecções urinárias, fraqueza extrema, perda de interesse por brinquedos e passeios, quadros frequentes de desidratação e halitose diabética, indicativo do desenvolvimento de cetoacidose diabética.
Assim que os primeiros sintomas se instalarem, o proprietário deve submeter o cachorro a uma avaliação veterinária. Uma vez que tenha sido realizada a avaliação clínica e a suspeita de diabetes tenha sido mantida, o médico solicitará exames de sangue (que devem ser realizados em jejum) para dosar o teor de glicose no sangue. Em caso de diabetes, a glicemia (teor de açúcar no sangue) ultrapassa 1,5 g/l, podendo atingir até 4 g/l.
A ausência da glicose no sangue, no entanto, não é suficiente para descartar a possibilidade de diabetes. Exames complementares, com a análise de outros parâmetros sanguíneos, podem identificar complicações hepáticas ou renais comuns à doença.
Uma vez confirmado o diagnóstico, os cães devem iniciar a terapia para suprir a deficiência de produção de insulina pelo pâncreas. O diabetes ainda não tem cura, mas os animais, com o tratamento adequado, podem ter a longevidade prolongada e melhorar bastante a qualidade de vida.
Na maioria dos casos de diabetes em cães, o equilíbrio dos níveis do hormônio pancreáticos destinados a reduzir o teor de glicose é obtido através de insulina sintética obtida através de hormônios naturais produzidos por porcos. O medicamento é bastante eficiente, mas a dosagem precisa ser exata, para evitar quedas bruscas da glicemia.
Em geral, o objetivo do tratamento é manter a glicemia abaixo de 2 g/l (percentual ainda considerado, em exames laboratoriais, como hiperglicêmico). Para manter este quadro, recomenda-se administrar, a cada dois ou três dias (de acordo com a orientação do veterinário), uma dose padrão de insulina endovenosa.
No início do tratamento, de acordo com as condições dos cães, a internação é indicada, para a ministração das primeiras doses de insulina e controle de enfermidades relacionadas. Este período é importante também para que os proprietários possam aprender a calcular as doses de medicamento e a aplicar as injeções.
Entre os cães, não é indicado que os donos façam o controle doméstico do nível de insulina (como ocorre entre os pacientes humanos), uma vez que erros de interpretação, muito comuns na avaliação dos pets, podem levar a doses excessivas, que podem determinar convulsões, coma e até mesmo a morte dos animais diabéticos.
Acidentes causados por overdose são caracterizados por quadros repentinos de hipoglicemia, cujos sinais principais são fadiga, irritabilidade, dificuldade de engolir e transtornos de locomoção. Uma coleta mensal de sangue, em laboratório, é suficiente para determinar as doses de medicamento necessárias.